quarta-feira, 14 de maio de 2014

Minha amiga depressão


Difícil falar com exatidão quando foi a primeira vez que eu manifestei um sentimento que pudesse ser um possível sintoma de depressão. Difícil falar quando foi a primeira vez que eu sentir esse vazio, essa dor que me rasga o peito todo os dias. Eu nunca imaginei que teria algo, sempre achei que minha tristeza fosse fruto de minha exclusão e falta de tato social. Isso se agravou com o tempo. Eu tive uma adolescência bem difícil. Sofri muito bullyng, fui rejeitada, tive minha auto estima fodida de todas as formas possíveis.

Dentro da minha casa e família sempre rolou uma cobrança muito forte por mulheres de fibra, auto suficientes e independente. Com isso aprendi a esconder meus medos, conflitos e traumas. Eu não abro pra minha família sobre minha situação. Eu sei como é lidar com capacitismo* e ele machuca muito. Eu me lembro com exatidão quando eu fiquei 3 dias sem levantar da cama sem força pra viver, eu me lembro da primeira vez que tentei cometer suicídio. Eu lembro disso tudo.

Lembro de como com o passar dos anos esse sentimento se intensificou dentro de mim e tudo piorou até eu tentar 1,2,3,4 vezes e não conseguir. Eu ainda penso em morrer todos os dias quando acordo, eu procuro manuais de como ter uma morte limpa e eficaz na internet. Eu tenho ela como minha companheira há alguns anos, eu sei que é isso só agora depois um longe período vivendo e revivendo sintomas. Eu tenho medo de procurar ajuda psicológica, pois não quero viver dopada e alheia ao mundo. Mas eu vivo dopada pela dor e pelo medo todo os dias. Eu tento ter uma vida o mais tranquila possível, mas eu sei que ela está ali sempre.

Não é fácil lidar com isso, não é fácil desejar morrer. Não é fácil lidar com as pessoas lhe dizendo coisas que não fazem sequer um efeito sobre você. Quando você abraça o medo e quer morrer você se torna alheio ao resto do mundo. O mundo se torna um lugar cheio de dor e horrível. Não vale a pena viver nele. Todos esses sintomas me compõe hoje enquanto escrevo esse texto. Todos esses pensamentos invadem meu ser e me distanciam de pessoas que querem me ajudar. As vezes acho que a unica companheira que realmente me entende é ela. A única que me abraça e compreende como eu realmente me sinto.


Eu não gosto de tê-la como amiga.




* capacitismo : Opressão e discriminação contra pessoas com deficiência física ou mental, transtornos ou doenças. O termo é baseado na crença de que pessoas sem essas características são consideradas “normais” e com “mais capacidade” pela sociedade. Também pode abranger o preconceito contra pessoas muito gordas ou muito magras.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Amor livre e a prisão do ser

Quando se fala em amor livre nós imaginamos que tudo já estará desconstruído que não sentiremos medo, desejo de posse entre outras coisas que pensamos porque estamos inseridos dentro de um contexto libertário de relação. Não é, se não estamos desconstruído para lidar com o outro, como o incerto, como não ter certeza. Sofreremos e sofreremos bastante.

Quando a pessoa com quem me relacionei abriu está apaixonada eu entrei em pânico porque eu não sabia mais qual o meu lugar dentro da relação, eu quis escolhas, eu quis terminar, eu não quis aceitar. Mas como se eu sou praticamente de relações livres e não sei lidar com isso ? Fui pega de surpresa pela minha própria falta de compreensão sobre tudo e preparo emocional em lidar com tal. Não existe um manual libertário que nos ensine a ser livres da complexidade do ser.

Quando se vive dentro de um sistema monogâmico onde prega o desejo de posse pelo outro estamos sujeito as armadilhas de não ser desconstruídos o suficiente. Eu sempre achei que podia controlar situações, poderia te ver como meu objeto, eu gostava de ideia de exclusividade de " só meu". Mas nunca foi minha, nem só minha e sim quem quiser, quem amar, quem estiver na vida.

E doeu.. E como doeu e ainda dói não se engane, mas dói menos. Mas estremeço de pensar em você em outros braços senão os meus, entre outros corpos se não o meu. Ainda penso, será que vai voltar pra mim amanhã? Acordo e você ainda está aqui.

Meu amor teus lábios ainda fazem minha cabeça, teu abraço é delicioso e teu corpo é onde eu quero me perder. Como sinto falta de adormecer entre teu corpo depois de uma briga porque deixou a toalha molhada em cima da cama. Meu amor teu espaço está aqui e sempre irá existir.

Mas existe algo que preciso, existe algo que preciso encontrar...  Existe algo que não pode me dar, fornecer, auxiliar de forma nenhuma.  Não importa o quanto diga, tente ou fale não irá me convencer do contrário. Eu já não te quero mais pra mim, já não sou preso, já não sou fel, já não sou ódio. Mas existe algo que só eu posso encontrar : minha liberdade dessa prisão.


Meu amor, eu quero ser livre também.





Links relacionados : http://aquelasmulheres.tumblr.com/post/74082902329/monogamia-liberdade-e-feminismo

http://cafefeminista.wordpress.com/2013/07/08/por-que-e-tao-dificil-praticar-o-amor-livre/

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Porque eu preciso falar sobre suicídio

Hoje o tema que eu quero tratar é algo delicado a ser abordado. Não é fácil falar sobre suicídio. Mas eu me lembro a primeira vez que a ideia se manifestou na minha cabeça, quando simplesmente achei que a vida me cansava e não me encontrava mais motivos para se prosseguir com isso.

Acho que minha relação desde o fato em questão é uma relação íntima até hoje, vivemos nos encontrando nas minhas crises mais severas quando eu choro enquanto deslizo um objeto cortante na minha pele, enquanto flerto com uma cartela de remédios no silêncio do meu quarto enquanto uma força me diz que ainda não posso desistir de tudo assim tão fácil. Minha relação para o com mundo sempre foram frustrantes, desgastantes, intensas e solitárias. Nunca me senti de fato inserida nessa cultura e sistema individualista, massificador e opressivo. Viver no absurdo não é uma jornada fácil, Camus me esclareceu muito em seu livro mito de sísifo sobre o assunto. 

Eu preciso falar sobre isso porque eu preciso ter a sensação de que não estou só, eu preciso falar sobre isso porque eu não quero me sentir como a única pessoa que já pensou em fazer o mesmo. Viver em uma realidade que nega tua existência te oprime, invisibiliza, agride, reprime, violenta todos os dias não é uma tarefa fácil, não é fácil viver. Mas nada nunca me foi fácil. Ainda me lembro das minhas primeiras lágrimas sobre minha primeira tentativa sobre isso, eu não consegui, me senti um fracasso. Só conseguia pensar " o que será que vão dizer sobre mim se eu morrer? ". 

Eu preciso falar sobre suicídio porque estamos andando de mãos dadas desde sempre, porque eu não sei quando vou conseguir concluir uma tentativa, nunca conseguir faze-lo, talvez exista alguma força em mim que não me permita isso, ainda. Mas existem dias que respirar é uma tarefa difícil, mas eu continuo prosseguindo. 


Eu preciso falar sobre suicídio porque ele é uma das maiores causas de morte entre adolescentes e minorias, eu preciso falar sobre suicídio porque no dia  10 de Setembro é o dia de combate e prevenção ao suicídio. Eu preciso falar sobre isso porque ele é a minha prisão. 





quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Saúde mental, convivio social e outras coisas.

Eu geralmente não costumo falar sobre meus transtornos ou distúrbios emocionais que me levam ao fundo do poço com a mesma facilidade que adormeço todas as noites. Minha busca por uma perfeição doentia, o meu medo do desconhecido e a auto sabotagem sempre fizeram de mim uma pessoa debilitada e de saúde mental frágil, desenvolvi transtorno de ansiedade. Hoje convivo com ele ou pelos menos tento.

Difícil encarar os sintomas como o cansaço excessivo, falta de concentração, sono perturbado e o forte desejo de suicídio. Sem dúvida para mim manter a lucidez é sempre a parte mais complexa de tudo, quando na verdade meu desejo imenso é dar um fim em toda agonia que sinto. Mas eu não imaginava que o convívio social seria o fator mais agravante para eu lidar com isso, as pessoas elas simplesmente não entendem. 

Não compreendem como você se sente, do meu isolamento para me recuperar. Elas cobram sua melhora, sua resposta. Encaram seu problema como uma fase, uma " frescura", um vai passar. Te cobram que seja clara, concisa quando não consigo. A saúde mental ainda não é levada a sério. 

Desejos sinceros que partem de mim para com os outros é que me respeitem, respeitem meu silencio me preservem do seu coitadismo, da sua piedade. Ela me maltrata, me machuca, me angustia. Não quero pessoas ao meu redor pautando como devo me sentir, me comportar, ser até nesses momentos. Quero apenas o básico, respeito. Muitos casos são ajuda, que são bem vindas, mas em forma de pressão para que sua melhora seja rápida para que se livrem de um problema incomodo. 

Só desejo que reflitam um pouco mais sobre isso, sobre como abordar esses assuntos. Sei que não é fácil lidar com alguém que tenha a saúde mental fragilizada, entenda do que se trata, se informe e acima de tudo respeite essa condição. Eu agradeço, eu preciso disso. Eu preciso desse respeito. 


Eu preciso dessa voz para poder continuar vivendo. 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Padrões de corpos, feminismo e sua libertação.

O assunto que quero abordar hoje é sobre padrões de beleza que nós feministas lutamos para modificar, subverter ou destruí-los por completo, caso seja necessário. Os padrões de beleza são misóginos, utópicos, objetificadores e cruéis com todas as mulheres em suas gamas de interseções. O que eu pretendo com o ser bonita? O que ser é bonita ? Porque eu preciso me aceitar como bela?

Quando entrei na militância feminista eu odiava o meu corpo e o achava  uma aberração. Minha magreza excessiva, minha falta do que é considerado como feminino. Os padrões de beleza estão sempre nos sufocando, nos reprimindo, nos fazendo odiar o que somos ou que poderíamos ser. O feminismo me ajudou na auto aceitação, mas ainda não cheguei no body positive, expressão essa que me soa como imposição de amor próprio quase obrigatória dentro da militância. Minhas perguntas iniciais ainda não foram  respondidas. Porque eu preciso me aceitar como bela e me amar como sou? Existe algo nesse concepção que me incomoda. Essa imposição de auto aceitação que soa como regra. Eu procuro a libertação das minhas amarras de um projeto de beleza definido por padrão, eu procuro a paz de não precisar odiar meu corpo nem que seja por amor ou por um sistema que me ensinou isso desde sempre. Desde quando eu cresci e tive meus primeiros pelos e quando foram sutilmente colocados a mostra me tornei motivo de piada por ser uma mulher que não tinha higiene. 

A minha experiência como uma mulher cis, afrodescendente e magra dentro do feminismo é que ele ainda prega e tem resquícios desse padrão cujo o qual eu me encaixo muito bem, isso me incomoda. O feminismo que seleta corpos e esculpe seu próprio " padrão de corpo da auto aceitação". Excluindo o que não se torna belo aos olhos da libertação. O corpo branco e magro ainda é maioria em fotos, revistas, tumblrs e etc. Os mesmos que se dizem feministas e libertários.Será que é por isso que lutamos contra um padrão ? Será que foi essa resistência que lutamos? Ou estamos lutando contra toda e qualquer forma de padrão?

Eu quero a liberdade e a subversão de ter o meu corpo não catalogado, sugerido, requisitado apenas para ser uma bela foto em um ensaio com mais do mesmo, eu quero a liberdade de não precisar existir um padrão para que eu seja aceita, eu quero a liberdade de ser/existir da forma como eu quiser. 


Então vamos parar de corroborar com patriarcado e perpetuar velhas formas, quando na verdade queremos mais corpos reais e livres. Queremos apenas isso, a nossa liberdade de sermos o que quisermos, até mesmo não belas. 

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Estou de volta (?)

Bom, eu dei uma sútil sumida desse espaço que sempre usei para reflexão. Acho que eu precisava mesmo de um tempo para amadurecer minhas ideias e voltar com mais firmeza sobre tudo. Inclusive no que diz respeito a minha militância feminista e minhas percepções sobre a mesma.

E como tenho encarado esse processo de subversão e amadurecimento que tenho vivido ao longo do meses e quem sabe anos. Abandonar a militância foi algo que eu pensei em fazer, estou cansada. Muito cansada de tudo, mas desistir seria muito simples, e eu não posso me dar ao gosto de simplesmente desistir.

Eu não estou aqui apenas pela teoria, estou aqui porque minha vida depende disso, se eu não abraçar meu amor e minha paixão pela mudança dificilmente eu vou conseguir seguir em frente.


Então justamente por isso voltei, e voltarei quantas vezes forem necessárias.

Porque o meu silencio não vai me proteger.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Sobre o Riot Girls, música e libertação feminina

Bom eu pensei sobre um nome para o blog, eu escolhi esse nome porque sou apaixonada por música após descobrir o feminino estudei mais a finco a participação feminina na música e especificamente no rock . O que me conduziu ao Riot Girl que é um movimento feminista dentro do rock. Esse movimento tinha como proposta a inserção feminina no  movimento punk. Até então as mulheres eram tachadas como " não sabem tocar nada ". Segue abaixo uma pequena definição :


Riot grrrl (ou riot girl) é um movimento abrangindo fanzines, festivais e bandas de hardcore punk rock e feminismo. A intenção do movimento é informar a mulher de seus direitos e incentiva-las a reivindica-los. Uma das principais formas além de protestos foi o uso da música. A carreira musical feminina se resumia apenas como vocalistas, ou qualquer função em bandas de músicas leves, mesmo assim mal vistas. O principal ponto foi montar bandas de rock, com instrumentos pesados como baixo e guitarra com muitos efeitos e distorção, estilo e instrumentos inicialmente considerado como masculinos.
Incentivando cada vez mais as mulheres a montarem suas bandas, criar fanzines feministas, e assim expressar suas opiniões e vontades. O gênero musical riot grrrls apareceu na década de 90 como resposta as atitudes machistas punks.

Fonte: Wikipedia

Charge do movimento sobre o machismo  no  ambiente punk 


Dentre essas banda uma das minhas preferidas é X- ray spex. Banda de umas das primeiras mulheres a fazer parte dessa onda feminista. Dentre elas teremos entre outras mulheres e bandas que romperam com o machismo do movimento e quebraram conceitos de gênero. Podemos citar Patti Smith, Joan Jett, New York Dools etc. 
                                

                                     

Eu sei que sou artificial
Mas não coloque a culpa em mim
Eu fui criado com eletrodomésticos
Numa sociedade de consumo

Quando eu coloco minha maquiagem
A bela pequena máscara, não eu
Esse é o modo que uma garota deve ser
Numa sociedade de consumo

Minha existência é ardilosa
Do tipo que é apoiada
Por recursos mecânicos

Minha existência é ardilosa
Do tipo que é apoiada
Por recursos mecânicos

Eu quero ser instantânea
Eu quero ser uma ervilha congelada
Eu quero ser desidratada
Numa sociedade de consumo

Numa sociedade de consumo
Numa sociedade de consumo